
NOVA ESTRELINHA
Há algum tempo, dezasseis anos, com o título “As Estrelinhas”, em memória de minha filha, escrevi seguinte texto:
Era uma noite muito fria, muito escura mas com um céu muito limpo, por isso sem nuvens.
Viam-se muitas estrelinhas que brilhavam com tanta intensidade que até apetecia estender a mão e pegar-lhes.
Algumas juntavam-se em grupos formando desenhos engraçados.
As duas irmãzinhas que à janela espreitavam o céu puseram-se a contá-las, mas eram tantas, tantas que, depois de muitas tentativas, não conseguindo chegar ao fim, desistiram e puseram-se a imaginá-las.
Continuaram a observá-las e notaram que uma brilhava com mais intensidade, dizia a mais nova: “olha esta aqui, mais pertinho de nós é a que vem pelo Natal poisar-se naquele grande pinheiro e depois chama as outras mais pequeninas, que devem ser as suas filhinhas, e se distribuem por todos os pinheirinhos que estão à janela das casas”.
A mais velhita olhando para tantas estrelas tentava era descobrir qual delas seria a mana que há pouco tempo as deixara convertendo-se numa estrelinha.
Seria provavelmente a maior porque brilhava mais, estava mais perto e até se parecia com ela. Repara, dizia, como ela nos pisca os olhos. Repara como está tão pertinho que nos vê. Vamos acenar-lhe. E as duas manas de mãos estendidas chamavam pela estrela “Mimi” que lá no alto as olhava sorrindo.”
Chegou a hora de ir para a cama e já deitadas a mais velhita antes de adormecer pediu para sonhar com as estrelas, e adormeceu.
Sonhou, então, que ela e a maninha eram, também, duas estrelinhas que passeavam pelo céu divertindo-se com todas as que encontravam, e eram muitas... muitas...
Havia estrelinhas grandes, pequenas e muito pequenas e eram com estas que elas mais se divertiam. Jogavam ao esconde-esconde, ao lencinho, à macaca, à corda, e uma até mais malandreca, esticou a corda quando outra saltava, fazendo-a cair e na queda espalhou luzinhas por todo o terraço. Todas riram às gargalhadas, mesmo a que caiu.
Depois de cansadas de tanto brincar e como já seria hora do lanche pensou que estivessem à sua espera, mas…, de repente lembrou-se que as estrelinhas não comem. Pegou na mão da irmã e sentaram-se lado a lado cansadas e sorridentes.
Acordaram com um lindo sol que entrando pela janela lhes lambia os cabelos. O sol era também uma estrela, mas parecia maior.
Depois do banho tomado, vestiram-se e enquanto tomavam o pequeno almoço, contaram à avó a noite que passaram. Olha avó: ontem quando nos deitámos vimos no céu muitas, muitas estrelinhas e a nossa mana era a que estava mais perto de nós e que nos piscava o olho. Era tão bonita. Sonhei toda a noite que nós também eramos estrelinhas e brincámos com as outras. Corremos, dançámos, fizemos muitas brincadeiras. Foi tão lindo... de manhã o Sol acordou-nos.
Óh avó, diz a mais pequenita, a mana diz que o sol também é uma estrela, mas ela é tão grande e não nos deixa olhar para ela!
A avó ficou um pouco pensativa e, então, explicou-lhe que o Sol é na verdade muito grande e as outras estrelas que parecem pequeninas podem até serem maiores, só que estão muito mais longe de nós e do sol e por isso à nossa vista parecem mais pequenas.
No céu, que também se chama firmamento há muitas, muitas estrelas. Não se sabe até quantas há. O firmamento não tem fim.
Como disse, o sol é o que está mais próximo de nós e é ele o centro da nossa vida, isto é, a Terra que é o planeta que nós habitamos pertence ao sistema solar, a Terra e mais planetas como o Mercúrio, o Vénus, o Marte, o Júpiter, o Saturno e antigamente dizia-se que também o Plutão, mas quanto a este há dúvidas e está muito, muito, mas mesmo muito longe de nós e do Sol.
Quero-vos explicar que o Sol é a nossa fonte de vida. Ele dá-nos luz e calor. Se por acaso ele desaparecesse, tudo na Terra desapareceria.
Todas estas explicações estavam a ser uma grande confusão nas cabeças das meninas. Então se as estrelinhas eram as pessoas que nos deixaram como podia ser que elas estivessem tão longe, dizia a mais velhita.
A avó, senhora já de muitos cabelos brancos, por isso de muito saber, lá começou novamente com as suas explicações:- Pois é, as pessoas nasceram há muitos milhares de anos, e há sempre meninos a nascer. Não caberíamos cá todos, então têm que ir para outros lados e transformam-se em estrelinhas.
Uma delas é a vossa mana.
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Na última terça-feira, dia 7, outra estrela brilhou no céu, a minha extremosa mulher. Companheira ao longo de 58 anos, sempre bem disposta e de uma alegria contagiante. Amorosa, Carinhosa, Senhora de um Coração Enorme que criou dois filhos e com o mesmo amor e carinho, uma enteada e quatro cunhados.
Manuel Castro
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Comentário do editor CV:
A tertúlia, os editores e os colaboradores deste Blogue, associam-se à dor do nosso amigo Manuel Barros Castro que recentemente perdeu a sua esposa e companheira de vida.
Aqui deixamos o nosso abraço solidário.
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